2 de outubro de 2011

tears,

«não chores! não vale a pena estares a chorar! nem te atrevas! se choras, olha que o castigo prolonga-se!»
aqui está a prova de eu ser, em parte, como sou. lembro-me perfeitamente quando esta era eu. uma menina, com franja, cabelo rebelde e forte, com uns olhos grandes castanhos e pestanudos, marejados de lágrimas prestes a cair pela minha face. uma menina que nunca se portou mal, mas que no entanto passava a vida de castigo.
não digo que os meus pais são maus, porque não são. eu amo-os, muito, mas são duros, por vezes. e ensinaram-me a não chorar. nunca. e fazem agora o mesmo à minha irmã.
porque é que não podemos chorar? será assim um pecado tão grande? será pelo facto de que, se nos virem a chorar, a vontade de chorarem vocês mesmos será muita?
a verdade é que durante a minha infância fui ensinada a ser forte. fui ensinada que, chorar é um sinal de fraqueza e que nunca, jamais posso baixar a minha guarda.
raramente chorava, mas quando o fazia, fechava-me na casa-de-banho e lá ficava durante horas a chorar por aquela vez, e por muitas outras.
sei que já falei disto aqui, talvez me esteja a tornar repetitiva, mas pouco me importa.
o pequeno episódio de hoje transportou-me para a minha infância, relembrou-me os tempos em que me era dito «não sejas maricas, pára de chorar, não vale de nada chorares!», relembrou-me os tempos em que eu não chorava, guardava sempre tudo cá dentro.
e foi assim que me tornei nesta pessoa, aparentemente feliz por fora, mas destruída por dentro. sem chorar, sem berrar, sem esmurrar alguém, sem se exprimir.
foi assim que me tornei numa (muito) boa mentirosa.


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well, lucky you, cause my mama never said that to me.

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